O que vem a ser realmente o livre arbítrio?
O livre arbítrio é a capacidade e poder de decidir livremente, sem coação. A Bíblia não usa essa expressão, exceto em Êxodo 21:22, com referência a juízes.
No entanto, em teologia usa-se a expressão para designar o direito que o pecador tem de optar para salvar-se da perdição eterna. Em oposição levanta-se a doutrina da divina predestinação, segundo a qual não importa o que o homem queira fazer, e os planos que faça, é a vontade do seu Autor que será executada.
São doutrinas aparentemente irreconciliáveis, e ambas são defendidas vigorosamente com base em textos bíblicos. No entanto, toda a contradição entre elas desaparece quando levamos em conta o atributo da presciência de Deus.
Baseando-se principalmente no livro de Provérbios de Salomão, considerado como o "abrigo da doutrina da divina predeterminação", p.e. Provérbios 16:1,9,33, 19:21, 20:24, 21:1, 29:26. Se o Senhor dirige os passos do homem, isso significa que ele é controlado, ou governado por Deus. Daí concluem que, não importa o que o homem queira fazer, e os planos que faça, é a vontade do seu Autor que será executada (Manual de Berhof, p.231). Em Lamentações 3:38, Amós 3:6, Isaías 45:7 temos textos que poderiam até sugerir que Deus faz o mal.
No entanto, frequentemente descobrimos que Deus apenas permitiu que certas coisas fossem feitas, mas foram por isso atribuídas a Ele. Por exemplo, foi o diabo que tentou Jó com severas tribulações, mas Jó (Jó 1:21), o autor do livro (Jó 42:11) e mesmo Satanás (Jó 1:11, 2:5) puseram a culpa em Deus; em outro exemplo célebre, Satanás provocou o rei Davi a numerar o povo (1 Crônicas 21:1) mas a culpa foi posta em Deus (2 Samuel 24:1). Charles Hodge, um calvinista muito respeitado, comentou: "É evidente por esses e outros textos que é um uso comum atribuir a Deus os efeitos que Ele, em Sua sabedoria, permite acontecer". Isto vem a ser a vontade permissiva de Deus, que os calvinistas não admitem, pois seria desastroso para a sua teologia fundamental.
Mas a vontade permissiva de Deus é encontrada em toda a Bíblia, e inclui o livre arbítrio que é concedido ao ser humano. Um exemplo clássico é a salvação do homem perdido: "O Senhor... é longânime para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se" (2 Pedro 3:9), "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados" (Atos 3:19) e "ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura; quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado." (Marcos 16:15 a 16). Vemos aí expressa a vontade de Deus (quer que todos se salvem) e a Sua permissão (não crer e ser condenado), que dá o livre arbítrio ao homem.
É necessário conciliar os eternos propósitos de Deus, ou os Seus "decretos" como dizem os calvinistas, com as conseqüências do livre arbítrio concedido ao homem. O homem, por causa das suas limitações, não tem capacidade para isto. Mas Deus, eterno e onisciente, sabe tudo, seja o presente, o passado ou o futuro, que Ele prevê igualmente bem. Assim, tudo o que aconteceu, acontece e vai acontecer está dentro dos Seus planos. Ele é Soberano.
Por causa da sua vontade permissiva, o homem faz o que bem entende, e é ele próprio, o único responsável pelos seus atos. Mas Deus já sabe de antemão o que o homem vai fazer, e isto está, portanto, em Seus planos. A profecia bíblica, boa parte já cumprida, com exatidão, é a prova disso.
1. Os Eventos da história, tanto os já acontecidos como os que ainda haverão de acontecer, não ocorrem por expressa determinação da vontade de Deus, mas são conhecidos por antecedência por Ele, para o cumprimento dos seus eternos desígnios.
2. Deus tem propósitos eternos que haverão inevitavelmente de ser cumpridos. Nos meios para alcançar tais propósitos, Deus conta com a participação humana.
3a. A doutrina do concurso divino não é antagônica à livre ação do homem, pois este age espontaneamente com a permissão de Deus.
3b. A ação livre do homem e a ação soberana divina são congruentes devido à onisciência de Deus, que conhece antecipadamente a ação que o homem vai tomar.
4. O Governo de Deus é uma manifestação da Sua providência, assim como essa providência é uma manifestação do governo soberano de Deus.